Chega a ser inacreditável que, em pleno século 21, sentenças machistas se tornem tão normalizadas a ponto de aparecerem em concursos públicos. Foi o que ocorreu domingo (13/10), na prova que integra a seleção de novos servidores para a Prefeitura de Macaé (RJ).
Sem contexto nenhum – tal como uma citação literária a ser analisada –, duas questões de Língua Portuguesa expõem estereótipos preconceituosos contra as mulheres. Uma das perguntas orienta o candidato a apontar uma resposta que “não contém uma crítica ao fato de a mulher falar demais”.
Entre as frases listadas, uma diz que “a língua da mulher não cala nem depois de cortada'', enquanto outra sustenta que “há mil invenções para fazer as mulheres falarem, e nem uma só para as fazer calar'”. Na segunda questão, surgem afirmações ainda mais indecorosas, a exemplo de “a mulher é como um defeito de natureza'' e “as mulheres são como robôs: têm no cérebro uma célula de menos e, no coração, uma célula a mais”.
Embora as duas questões tenham sido anuladas, a FGV (Fundação Getúlio Vargas), responsável pelo conteúdo da prova, limitou-se a dizer que tais perguntas não se alinhavam “aos princípios desta Fundação”. Não houve um único pedido de desculpas ou uma mera explicação sobre a situação. Afinal, se os “princípios” da FGV são outros, como o machismo apareceu de forma tão escancarada na prova?
A Prefeitura de Macaé – que não teve acesso prévio ao exame, “cumprindo a lisura do processo” – repudiou o “conteúdo ofensivo” e cobrou “posicionamento oficial” da FGV. Nada mais falou, como se tudo se resumisse a um gerenciamento de crise pontual.
Mais do que pontual, porém, o machismo é uma chaga estrutural. A gravidade do caso do concurso público é ainda maior porque, no funcionalismo municipal de Macaé, três a cada quatro trabalhadores são mulheres. Elas prestam serviços essenciais na Educação, na Saúde, na Assistência Social e em todas as áreas da gestão pública.
A resposta “oficial”, até o momento, é insuficiente e precária. A Fitmetal se soma a entidades que, como a CTB, denunciam o machismo cotidiano, exigindo o respeito, a valorização e a plena emancipação feminina. Pronuncie-se já, FGV! E seja mais assertiva em suas posições, Prefeitura de Macaé!
17 de outubro de 2024
Fitmetal – Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil