Editorial

Lula está certo: o mercado não pode ser a prioridade de seu governo

Busca do “déficit zero” nas contas públicas não pode ser à custa de investimentos estratégicos para o País


POR Assis Melo

Publicado em 07 de novembro de 2023


Desde a campanha eleitoral de 2022, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou claro que um terceiro mandato seu na Presidência da República não poderia ser pautado pelos interesses do mercado. Aos investidores, prometeu uma política macroeconômica pautada por “credibilidade, previsibilidade e estabilidade”. Mas a prioridade número um de sua gestão seria o povo brasileiro, tão aviltado nos governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

Em pouco mais de dez meses de governo, Lula entregou o combinado. A inflação estabilizou, e a economia cresceu – muito acima, aliás, do que previam as agências ligadas ao mercado. Mais de 1,2 milhão de empregos foram criados, e a população economicamente ativa do País bateu recorde.

A retomada da política de valorização do salário mínimo e a correção da tabela do imposto de renda beneficiaram dezenas de milhões de trabalhadores, aposentados e pensionistas. Nas campanhas salariais de 2023/2024, centenas de categorias voltaram a registrar aumento real nos salários.

Lula recebeu de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), uma “herança maldita”. Ainda assim, tenta restabelecer políticas públicas, apostar na reindustrialização e garantir mais investimentos. O orçamento de R$ 1,7 trilhão estimado para o Novo PAC (Programa de Aceleração de Crescimento surpreendeu positivamente pela ousadia. O desenvolvimento soberano é o caminho para a reconstrução do Brasil.

Nesse sentido, Lula está certo ao dizer que a busca do “déficit zero” nas contas públicas não pode ser à custa de investimentos estratégicos para o País. “Eu sempre disse o seguinte: para quem está na Fazenda, dinheiro bom é dinheiro no Tesouro. Mas, para quem está na Presidência, dinheiro bom é o dinheiro transformado em obra”, afirmou, categoricamente o presidente na semana passada, durante reunião interministerial.

Mantras como “superávit primário” e “déficit zero” omitem um dado relevante: o setor financeiro já surrupia quase metade do Orçamento Geral da União. Em 2022, dos pouco mais de R$ 4 trilhões de orçamento federal executado, nada menos que R$ 1,88 trilhão foi para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública – o equivalente a 46,3% dos gastos do governo.

Segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, o pagamento dos juros levou o Brasil a retirar cerca de R$ 200 bilhões das áreas sociais no ano passado. É dever do movimento sindical lutar para que os trabalhadores não sejam mais sacrificados com essa sangria injustificada.

Lula não foi eleito para se render a metas fiscais irrealistas. O enfretamento às pressões do mercado é mais do que necessário, uma vez que responsabilidade fiscal sem compromisso social não passa de entreguismo.

 


Assis Melo

Presidente da Fitmetal (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) e do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região (RS)